[um beijo na cidade]

E lá dizia a canção “a cidade está deserta”. Deserta de mim, deserta de ti, deserta de “nós”.
Falavas de “nós” como quem comia cerejas e as conversas sucediam-se umas às outras, acabando sempre nas mesmas reticências “E se...?”.
Era nessas alturas que eu desejava conhecer-te melhor e saber o que estavas a pensar dizer e nunca dizias.
Entre “nós”, entre mim e entre ti, várias vezes se instalou aquele silêncio que nos absorve do resto do mundo e em que é possível desenhar-se um beijo.
Já nem sei se isso, esse beijo, se chegou a concretizar alguma vez.
Também, várias vezes, eu fui tu, tu foste eu, “nós” fomos nós os dois ou então apenas um.
Mas perante as tuas cerejas e as tuas reticências penso que nem houve, ao certo, um “nós”. Havia um “eu” e havia um “tu”. Talvez houvesse dois “eus”, dificilmente dois “tus”.
E é por isso que as coisas não dão certo e deixam as cidades desertas.
Já nem me lembro a razão por que fizemos as malas e divergimos caminhos.
Talvez tenhamos, ou melhor, “eu” tenha e “tu” tenhas, deixado as cerejas ao acaso. Pergunto agora eu “E se...?”... E se “nós” tivéssemos dado um beijo?
1 Comments:
Apesar de já ter sido à algum tempo lembro-me bem desta tua cidade.
Possui-se a liberdade para se ter a cidade que desejamos, o problema é querer a liberdade para tal.
Nas noites etéreas de lua cheia no bairro alto ainda sinto a presença duma certa fada a acompanhar-me, nada de desertos.
Um beijo
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