sexta-feira, junho 27, 2008

lugares-comuns

“é só uma fase”, quando já passaram meses desde a última vez que se fez amor durante uma ou duas noites inteiras

ou

“não é nada contigo, sou eu”, sempre que se quer terminar um relacionamento porque se encontrou alguém mais fascinante

ou

“isto não é o que pensas!”, enquanto um terceiro alguém se enrola nos lençóis e corre a esconder-se, inutilmente, atrás de qualquer coisa

as nossas vidas são, sem dúvida, feitas de lugares-comuns. por mais que os reneguemos. por mais desculpas que inventemos só para não admitirmos que aquela situação em particular nos fez sentir iguais a todas aquelas pessoas que criticamos.

somos cobardes, por isso julgamos os outros. não sabemos lidar com a diferença. nem com a igualdade, já que falamos disso.

estupidamente, esquecemo-nos de ser iguais a nós próprios. esquecemo-nos de ser genuínos. porque queremos ser normais. porque queremos «pertencer».

ficamos presos ao que os outros esperam de nós, porque também nós esperamos dos outros.

e que tal sermos livres e criarmos o nosso próprio lugar-ao-sol?

o meu lugar-ao-sol

domingo, abril 20, 2008


crescer adiante
dar passos incisivos
fazer frente aos obstáculos
cair e levantar


percorrer os infinitos
de olhos astutos
e ombros firmes


afinal, tão simples
como acender a íris
ou beber um trago de esperança
na paisagem vagabunda dos dias

terça-feira, fevereiro 26, 2008

há brilhos nos olhos...

... que duram uma vida inteira.

como acordar de manhã, o sol a fazer cócegas nas pestanas, um sorriso maroto a crescer aos cantos da boca e um dia inteiro para descobrir.

ver o nosso quadro favorito, pintá-lo de outras cores, escrever uma carta a duas mãos ou dar dois passos de dança ao caminhar.

ir até à lua e voltar.

fui à lua... volto jázz!rir

chorar

SENTIR

sempre... sempre... a vida inteira.

sexta-feira, novembro 30, 2007

contos de fadas

Porque se chamam contos de fadas, àqueles que as avós nos dão a beber, enquanto a lareira se acende em pano de fundo? “Porque as fadas não existem...”, diriam os cépticos.

“As fadas não existem?!”, e os olhos curiosos de todas as crianças morreriam se acreditassem nisso.

“Mas eu vi uma fada...”, contou-me o menino na minha mão, “tinha cabelos lilases e com sonhos”, e sem dar por isso fechei eu os olhos e vi as fadas desses contos a brincar na areia que os cépticos comiam ao jantar.

Porque se chamam então contos de fadas, se nem os cépticos comem sozinhos?

quinta-feira, outubro 04, 2007

pelos caminhos de Portugal

[breve nota introdutória: para quem ainda não se apercebeu, existem locais em Portugal com nomes fantásticos. Juntando uma pitada de imaginação a muita diversão, este pequeno texto resultou de 4.30h de viagem entre Lisboa e as terras do Douro, mais precisamente, Trevões. Espero que se divirtam tanto a lê-lo como eu e a A. a escrevê-lo!]

O pequeno Gonçalo andava a brincar, mas como tinha Terrenho no nariz, Trancoso na casa-de-banho durante uns tempos. Quando saiu, chamou a mãe: "Olha, mãe, já Massoeime!".

A mãe, que era uma senhora toda Lageosa, franziu a sua Sernancelhe, desconfiada. Mas entretanto esqueceu o assunto, porque tinha a Penela ao lume.

Assomando-se à porta, trazido pelo cheiro delicioso do cozinhado, o vizinho, o sr. Santo António do Rio Diz*, cheio de Friúmes: "Vós Cebolais? Vejo que preparais um belo Retaxo. Posso aprochegar-me à vossa Beira... Baixa e Provesende-lo?".

"Não", reponde a Senhora da Estrada, "porque vós sois um Fornotelheiro e estais cheio de Sarnadas!"

Ao ouvir esta troca de galhardetes, o filho mais velho Trancoso no quarto, enfurecido: "Oh mãe! Manda embora esse Lamego ou eu atiço-lhe os Carnicães!". O jovem, um bocado Mendo Gordo que nos últimos tempos, retoma o seu consumo de uma variedade de Ucanha alucinogénica Meimoa e, infelizmente, apanha uma Ervedosa do Douro.

No dia seguinte, o cheiro a Vermum já se espalhava pela casa e a Senhora da Estrada encontra o seu filho, estendido sobre a cama. Nisto, o céu escurece, enquanto se ouvem Trevões assustadores, reforçando a Moimenta em que a mãe se encontrava.

FIM

* contracção de Santo António do Rio com Rio Diz

segunda-feira, julho 02, 2007

Solidão, by Sullengirl

As primeiras coisas da madrugada contam-se em silêncio até ao mar.

Os primeiros passos e os últimos suspiros.

Entre uns e outros, guardam-se na palma da mão as palpitações de cada sorriso, de cada lágrima, de cada vez que se pronuncia um nome de que se gosta.

Daqui, do promontório da minha vida, vejo todos os pores-do-sol. Uns a cores, outros a preto e branco. Mas todos eles apanham a linha do horizonte até ao próximo mar. Seguem em silêncio, como as primeiras coisas da madrugada.

Sigo eu com eles na mesma carruagem, a contar os suspiros que me deixaste nas palmas das mãos.

quinta-feira, maio 10, 2007

nevoeiro [nos olhos]


smoke city

Saí de madrugada, pelas ruas estonteantes de fumo da minha cidade.

Julguei-me sozinha nos meus passos, julguei que o sol era o mesmo de há quinze dias, quando senti estalar-me aos ouvidos uma voz conhecida.

Levantei os olhos do chão, procurei-te por entre a confusão de carros e passeios e buzinas e…

Voltei a julgar-me sozinha, sem sol, quando despertei do sono pesado que me desenhava este sonho na mente e levantei-me, de vez, da preguiça dos lençóis, sacudi levemente a lembrança da tua voz dos meus ouvidos e saí, definitivamente, para o cinzento estonteante da cidade, olhos levados ao chão em tom de frustração, uma pedra da calçada que me faz frente e me leva a mim ao chão, uma buzina que me dá um soco no estômago e uma lágrima de raiva que ameaça varrer o meu rosto. Nada bom início de dia.

Passando por cima da desonra, recolho-me aos meus papéis e oiço-te à minha frente, a tua voz beijando-me os lábios, a tua boca aberta em sorriso, o meu cabelo despenteado, as tuas mãos oferecendo-me um pacote de castanhas.

E eu apenas com o tempo curto de um segundo para te perguntar…

… mas não chegaste a dizer-me o teu nome.