sábado, dezembro 02, 2006

[um beijo na cidade]

cerejas na cidade

E lá dizia a canção “a cidade está deserta”. Deserta de mim, deserta de ti, deserta de “nós”.

Falavas de “nós” como quem comia cerejas e as conversas sucediam-se umas às outras, acabando sempre nas mesmas reticências “E se...?”.

Era nessas alturas que eu desejava conhecer-te melhor e saber o que estavas a pensar dizer e nunca dizias.

Entre “nós”, entre mim e entre ti, várias vezes se instalou aquele silêncio que nos absorve do resto do mundo e em que é possível desenhar-se um beijo.

[sabes, um beijo?, aquele instante em que os lábios de uma pessoa se encostam nos de outra?!]

Já nem sei se isso, esse beijo, se chegou a concretizar alguma vez.

Também, várias vezes, eu fui tu, tu foste eu, “nós” fomos nós os dois ou então apenas um.

Mas perante as tuas cerejas e as tuas reticências penso que nem houve, ao certo, um “nós”. Havia um “eu” e havia um “tu”. Talvez houvesse dois “eus”, dificilmente dois “tus”.

[Na cidade, é assim]

E é por isso que as coisas não dão certo e deixam as cidades desertas.

Já nem me lembro a razão por que fizemos as malas e divergimos caminhos.

Talvez tenhamos, ou melhor, “eu” tenha e “tu” tenhas, deixado as cerejas ao acaso. Pergunto agora eu “E se...?”... E se “nós” tivéssemos dado um beijo?

[Estaria a cidade deserta?]