segunda-feira, janeiro 09, 2006

Flores da Pele

O frio de Coura escorre pelas ruas, embacia os vidros de uma casa cheia de gente, sorri com traquinice às gentes que se passeiam e que entram, apressadamente, nos cafés para que os cachecóis não arrefeçam antes da hora.
O tempo é de reflexão.
Enquanto tento apreender a maneira como a noite cai nas Terras Altas, volteio sobre mim, na tentativa de perder velhos hábitos e dar espaço aos que hão-de vir.
E encontrei uns quantos, já muito enraizados e já sem muita volta a dar.
Numa dessas noites a cair, alguém me sussurrou ao ouvido que falar do que mora dentro de nós nos torna mais humanos.
Foi quando percebi que deixei de me tornar mais humana há muito tempo.
Condicionei-me a não falar do que sinto.
Só falo do que penso.
Isso traz problemas.
E faz-me passar frio.
De tanto secretismo, esqueci-me de aquecer a flor da pele. O que não é nada propício para terras como esta. Os cachecóis só resolvem o frio que vem da rua.
Da janela embaciada de gente feliz, posso ver que estão constantemente a oferecer-me ramos de flores de pele, previamente aquecidas.
Tenho mesmo de deixar o cachecol no armário, para dias realmente frios.

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