nevoeiro [nos olhos]

Saí de madrugada, pelas ruas estonteantes de fumo da minha cidade.
Julguei-me sozinha nos meus passos, julguei que o sol era o mesmo de há quinze dias, quando senti estalar-me aos ouvidos uma voz conhecida.
Levantei os olhos do chão, procurei-te por entre a confusão de carros e passeios e buzinas e…
Voltei a julgar-me sozinha, sem sol, quando despertei do sono pesado que me desenhava este sonho na mente e levantei-me, de vez, da preguiça dos lençóis, sacudi levemente a lembrança da tua voz dos meus ouvidos e saí, definitivamente, para o cinzento estonteante da cidade, olhos levados ao chão em tom de frustração, uma pedra da calçada que me faz frente e me leva a mim ao chão, uma buzina que me dá um soco no estômago e uma lágrima de raiva que ameaça varrer o meu rosto. Nada bom início de dia.
Passando por cima da desonra, recolho-me aos meus papéis e oiço-te à minha frente, a tua voz beijando-me os lábios, a tua boca aberta em sorriso, o meu cabelo despenteado, as tuas mãos oferecendo-me um pacote de castanhas.
E eu apenas com o tempo curto de um segundo para te perguntar…
… mas não chegaste a dizer-me o teu nome.